
Protestos continuam na Turquia com sete jornalistas detidos

Os protestos continuam nesta terça-feira (25) na Turquia, onde mais de 1.400 pessoas foram detidas desde que uma onda de manifestações começou na quarta-feira devido à prisão do prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, principal adversário do presidente Recep Tayyip Erdogan.
As autoridades anunciaram que 1.418 pessoas foram presas até agora por participar de reuniões proibidas em diversas cidades do país, que foi abalado pela maior onda de protestos desde 2013.
Um tribunal de Istambul ordenou, nesta terça-feira, a prisão provisória de sete jornalistas turcos, incluindo o fotógrafo da Agence France-Presse (AFP) Yasin Akgül, acusados de participar de manifestações ilegais.
Akgül alegou durante sua prisão que estava apenas cobrindo um protesto em Istambul.
O presidente da AFP, Fabrice Fries, pediu nesta terça-feira a "rápida libertação" de seu fotógrafo.
"Yasin Akgül não estava se manifestando, ele estava cobrindo como jornalista um dos muitos protestos organizados em todo o país desde quarta-feira, 19 de março", escreveu Fries em uma carta enviada à Presidência turca, na qual ele descreve sua prisão como "inaceitável".
A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) condenou uma "decisão escandalosa que reflete uma situação muito séria em andamento na Turquia".
Um total de 979 manifestantes estavam sob custódia policial nesta terça-feira, enquanto 478 pessoas estavam à disposição judicial, de acordo com o ministro do Interior turco, Ali Yerlikaya.
- "Cabeça erguida" -
Em resposta aos protestos em andamento, a província de Ancara, a capital, estendeu nesta terça-feira a proibição das manifestações até 1º de abril.
As autoridades tomaram uma decisão semelhante em Izmir, a terceira maior cidade do país e um reduto da oposição, até 29 de março.
A mesma proibição está em vigor há seis dias em Istambul, onde dezenas de milhares de pessoas a desafiaram novamente na noite de segunda-feira em frente à Prefeitura.
A polícia dispersou com violência os manifestantes por volta da meia-noite, de acordo com um jornalista da AFP.
Özgur Özel, presidente do partido social-democrata (CHP), liderado pelo detido Imamoglu, convocou novos protestos para a noite desta terça-feira.
Na semana passada, os protestos desencadeados pela prisão do prefeito, acusado de "corrupção", se espalharam para pelo menos 55 das 81 províncias da Turquia.
Özel, que na segunda-feira pediu uma luta contra o "fascismo", visitou a prisão de Silivri na manhã desta terça-feira, onde Imamoglu e outros 48 réus, incluindo dois prefeitos de distrito que também são membros do CHP, estão detidos desde domingo.
"Encontrei três leões lá dentro. Eles estão de pé com suas cabeças erguidas (...), como leões", disse aos repórteres ao sair da prisão.
- Boicote -
O Conselho da Europa, que deve discutir a situação na Turquia nesta terça-feira, denunciou um "uso desproporcional da força" durante as manifestações e citou a repressão à imprensa.
"Estamos profundamente preocupados" com as prisões, incluindo a de Imamoglu, disse o escritório de direitos humanos da ONU, pedindo que as autoridades investiguem o suposto uso ilegal da força contra os manifestantes.
Estudantes continuam mobilizando em Istambul, onde começaram a se reunir em vários locais nesta terça-feira em preparação para um novo protesto marcado para 17h (11h no horário de Brasília).
Em um dos campi da Universidade Técnica de Istambul (ITU), Adanil Güzel, de 19 anos, disse que alguns professores ameaçavam os alunos em greve.
"Eles prometem dar pontos para quem fizer as provas", acrescentou o estudante de economia.
O CHP pediu um boicote a 11 marcas pró-governo, incluindo uma conhecida rede de café: "Podemos fazer o café nós mesmos", disse Özel.
"Parem de perturbar a paz de nossos concidadãos com suas provocações", declarou o presidente Erdogan na noite de segunda-feira, dirigindo-se à oposição em um discurso televisionado.
S.Ross--TNT